Para os simpatizantes e praticantes dos meios adequados de gestão de conflitos, incluir esse título na biblioteca faz todo o sentido. Não à toa, a afirmação, que abre a introdução do livro, diz:
Mais do que um “livro de cabeceira”, é leitura, além de prazerosa, para muitos momentos e fases de vida, onde quer que estejamos e sem prazo de validade. Como um convite à leitura recorrente, o texto nos acompanha, cresce, amadurece, se expande em profundidade, intensidade, utilidade.
O tom é de conversa, a sensação é de se estar diante de um conselheiro que, com suas histórias (parábolas), ensina sem impor suas visões e nos incentiva a pensar por nós mesmos. A herança cultural do judaísmo serve como justificativa para se afastar a adoção de soluções prontas e interpretações-padrão dos problemas, vistos por várias perspectivas.
O convite é para pensar além e de forma empática ao problema, buscar informação para decidir melhor, estar atento aos contextos em que se inserem os conflitos. Nas parábolas estão os “segredos” do título; por mais óbvias que sejam as conclusões, muitas vezes, não correspondem à real solução, e isso acontece porque nossas “rotas de fuga” (padrões mentais, linhas de raciocínio) estão arraigados a modelos que nos embotam. Ou, porque as aparências enganam.
À experiência histórica do povo judeu, diante das ameaças individuais e coletivas à sua integridade, se atribui uma visão de mundo conhecida como “cabeça de judeu” (Idiche kop); ou seria uma expertise em lidar com problemas? Reza a tradição que a solução dos conflitos, as reviravoltas da realidade dependem de fé, mas não somente.
É preciso também sagacidade, percepção e raciocínio apurados, que geram soluções “inimagináveis”, possíveis, porém!
Na prática, o texto identifica técnicas para se chegar a soluções simples e originais, entre elas, a formação de receptáculos (a inserção de formas nas essências), reframing, recontextualizção, a valorização da ignorância (a sabedoria do tolo e a inocência do sábio), o humor (ironia), o papel de boas respostas (para se fazer perguntas adequadas).
Em relação a esta última, o autor resgata o estereótipo do judeu que, em geral, responde uma pergunta com outra (p. 28). Aqui, o “segredo” reside na sagacidade em se saber fazer uma pergunta que, não sendo redundante, possa servir para aprofundar a pergunta anterior e gerar uma resposta “(…) que pode fazer avançar a escuridão e a ignorância”.
Como exemplo, Bonder traça um paralelo a partir do modelo dos antigos programas de TV, em que os indivíduos, isolados do exterior, em uma cabine, optavam por um ou outro prêmio. Em situações dessa natureza, diante de uma pergunta, faz-se outra e assim sucessivamente.
Com isso, as formas se aperfeiçoam até revelar a própria essência. E, conclui:
A pretensão não é filosofar ou ficar no plano da teoria apenas porque a tradição ensina que a necessidade obriga as pessoas a tomarem posição na vida. E esse processo decisório acontece em duas dimensões de pensamento – o aparente e o oculto – que, por sua vez, se subdividem em outras duas dimensões cada. Aparente é o mundo material e visto pela consciência (com formas definidas e limitadas, luz e claridade específicos).
Na dimensão do oculto, embora as formas se mantenham, são mais fluidas, podendo se misturar ou sobrepor a umas às outras; é o mundo do inconsciente. Essa distinção é exemplificada pelas as representações de cada uma delas, a saber, o aparente é a terra; o oculto, os mares (p. 81).
Ou seja, reza a tradição mítica que alguém no alto de uma colina consegue discernir tudo o que compõe a paisagem diante do olhar: a planície, animais, árvores, rochas, rios etc. Por outro lado, o mar só é visível por inteiro, é um coletivo de formas e particularidades que se escondem, mas que explicam muito do que é aparente.
Alicerçado nesses pilares, Bonder nos diz que uma vida melhor não se faz sem quaisquer problemas, eles existem inexoravelmente. Cabe a nós entender esses conflitos em sua real complexidade e dimensão. Assim, cada vez mais esclarecido e atento às suas questões, o ser humano se torna mais apto a desfrutar a existência com alegria e sem medos.
Concluída a tarefa de resenhar essa obra, insisto, para os simpatizantes e praticantes dos meios adequados de gestão de conflitos, incluir esse título na biblioteca faz todo o sentido.
Boa leitura!
Constança Madureira – Mediadora de conflitos, advogada consensual, professora universitária. Membro da Comissão de Meios Consensuais (OABRJ). Membro da Câmara de Mediação (OABRJ).
E-mail: mconstanca.madureira@gmail.com
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Comprei este livro iria ler